Padeiros, velhinhos, comerciantes, malta nova, homens comuns e artistas. Todos são o rosto do povo do Bairro Alto. Nas lembranças desta humanidade vária e heterogénea está conservada a história de um dos locais mais característicos e peculiares de Lisboa. E hoje que tudo está a mudar, hoje que o Bairro tornou-se na Disneyland do divertimento "à portuguesa", onde cada noite desembarcam as frotas de turistas, os jovens das periferias, e os dealers encontram os seus clientes, hoje que no Bairro se constroem grandes complexos imobiliários, hoje todos estes testemunhos têm ainda mais valor. Seguindo as vozes do Bairro Alto pelas ruas vazias do dia e pela excitação das noites, passando pelas casas e pelos bares, acompanhando as linhas dos graffiti nos muros, através de passado, presente e futuro, não só vamos inscrever a vida de um bairro, mas também vamos traçar o compósito rosto do seu povo. - Rui Simões

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Cantador de histórias



Segundas, terças e quartas são noites de enchente na Tasca do Chico (Rua do Diário Notícias). Foi lá que, encolhidos num banco corrido, a ver entrar e sair gente num constante rodopio, ouvimos as cantorias do senhor Reinado Gonçalves. Presença assídua naquela taberna, com um singular jeito de contador de histórias, Reinado não nos deixou partir sem a promessa de decorarmos a letra de um fado, facultado pelo próprio, a cantar na semana seguinte. Diz a primeira estrofe: “Um Sábio certo dia passeava/ Num lago de recreio, num lindo bote/ E quem airosamente o tripulava/ Era um rude barqueiro já velhote”.

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